A chanceler da Alemanha afirmou, em Marselha, que acabar com a crise da dívida na Europa vai levar anos e que a cimeira de quarta-feira foi apenas um passo para atingir esse objectivo.
“Passo a passo, estamos a vencer a crise, mas vai durar anos” e obrigar a um “trabalho duro”, disse Angela Merkel na reunião do
Partido Popular Europeu, na cidade francesa de Marselha.
“Necessitamos de mais euro e mais cooperação” entre os países europeus, referiu para sublinhar a necessidade de se “encontrar uma solução que seja boa” para todos os Estados membros.
A chanceler, que frisou também a importância de serem alterados os tratados da União Europeia para combater a crise da divida, negou que as decisões estejam a ser tomadas apenas pela Alemanha e pela França e pediu maior responsabilidade à Comissão Europeia.
O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, afirmou, na quinta-feira, que aquela instituição espera que a economia da Zona Euro venha a entrar em recessão no próximo ano devido à crise da dívida soberana na Europa e a uma redução da procura externa.
As estimativas do Banco Central revelam que a economia da Zona Euro pode crescer, este ano, entre 1,5 a 1,7 por cento e que as previsões, para 2012, são de contracção: 0,4 e 1 por cento.
Mario Draghi pediu aos dirigentes da União Europeia que participaram na Cimeira Europeia, realizada esta semana, que façam “o máximo”, em termos de reformas, para restaurar a confiança na conturbada Zona Euro.
O presidente do Banco Central sublinhou que o Fundo Europeu de Estabilização Financeira estará em breve operacional e excluiu a possibilidade de maior envolvimento no mercado da dívida pública, como têm reivindicado alguns Estados membros.
Mário Draghi reiterou que as compras que a autoridade monetária tem feito são “limitadas e temporárias”.
Ganhos com a crise
Enquanto os chamados países europeus periféricos (Espanha, Grécia e Portugal), além da Itália, debatem-se com uma subida do custo do financiamento, a Alemanha tem poupado uma fortuna com a crise da divida soberana.
A crise do euro desencadeou uma autêntica transferência de riqueza entre os países da moeda única. Não a famosa “união de transferências” dos mais ricos para os mais pobres, que a Alemanha abomina, mas exactamente o oposto.
Beneficiando da migração em massa do capital dos investidores para paragens mais seguras, os países mais ricos da Zona Euro têm poupado somas milionárias com a crise da moeda única. É o caso da Alemanha e da Holanda, que têm usufruído de condições de financiamento muito mais favoráveis, face aos valores que os investidores exigiam em 2008 e 2009, para emprestarem dinheiro.
De acordo com cálculos de especialistas, as 136 emissões de dívida da Alemanha realizadas entre 2010 e 2011 já permitiram ao Tesouro alemão poupar 1.587 milhões de euros nos últimos dois anos e assumir uma poupança de 11.451 milhões de euros até 2041, em resultado de uma correcção de quase 40 por cento do custo médio de financiamento nos mercados desde 2009. Isto significa que a crise da dívida soberana já permitiu à Alemanha acumular uma poupança média de 13.038 milhões de euros, o equivalente a 159 euros por cada alemão ou 0,52 por cento do PIB.
Os ganhos que o Governo de Berlim tem retirado desta crise são de tal forma significativos que, no mês passado, por duas ocasiões, o Tesouro alemão realizou duas emissões de dívida que prometem ser lendárias: a primeira foi realizada a 7 de Novembro, com a Alemanha a emitir 3.834 milhões de euros a seis meses, com um preço médio de 0,08 por cento; e dois dias depois emitiu 1.525 milhões de euros em obrigações a sete anos a um preço médio de menos 0,4 por cento.
Se na primeira emissão de dívida de curto prazo os investidores se dispuseram a emprestar dinheiro à Alemanha a troco de “quase nada” e até incorrendo numa perda real na segunda emissão realizaram um investimento que, garantidamente, gera perdas anuais médias de 0,4 por cento, caso os títulos sejam levados até à maturidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário