sexta-feira, 17 de junho de 2011

INVESTIGADOR PORTUGUES FAZ DESCOBERTA PARA COMBATER A SIDA


Proteínas determinantes nos tratamentos são o grande passo desta investigação

O investigador português André Raposo, a trabalhar na Universidade da Califórnia, Estados Unidos da América, descobriu proteínas que poderão vir a ser determinantes nos tratamentos da SIDA (HIV), um estudo que vai ser validado pela ciência em julho.

No estudo, a ser publicado em julho no “Journal of Immunology”, os investigadores André Raposo, David Trudgian e Benjamin Thomas apontam a existência de potenciais proteínas antivirais que podem dar um importante contributo para o desenvolvimento de tratamento contra o HIV.

“Vamos mostrar que a ativação das células primárias humanas anula as fases iniciais da reprodução do HIV alterando as células do vírus”, explicam os investigadores no resumo do estudo, a que a agência Lusa teve acesso.

Em conjunto com os colegas, o cientista licenciado em bioquímica pela Universidade de Coimbra e com doutoramento na Universidade de Oxford, Inglaterra, explora a capacidade imuno-reguladora que os linfócitos (glóbulos brancos) têm em diminuir a infeção do HIV nos macrófagos, células que intervêm na defesa do organismo contra infeções.

"Acreditamos que os macrófagos são as primeiras células do sistema imunitário a serem infetadas pelo vírus. No entanto, este não induz a morte destas células, residindo dentro delas durante largos períodos de tempo", explica André Raposo, em declarações à revista “Ciência Hoje”.

É nessa altura que essas células transmitem o vírus a outras, como os linfócitos, que acabam por não resistir e que conduzem à SIDA.

Na investigação, os cientistas conseguiram identificar as proteínas que reduzem a capacidade de defesa das moléculas contra as infeções, o que permite em termos laboratoriais alterar as características das células e torná-las menos suscetíveis de serem infetadas.

Em declarações à revista científica, André Raposo, cuja família reside na Lourinhã, disse que a descoberta “é um contributo da ciência para o desenvolvimento de vacinas efetivas contra o HIV".

sexta-feira, 10 de junho de 2011

BACTERIA E.COLI - O QUE É

O que são as bactérias Escherichia coli?
São bactérias na sua grande maioria inofensivas e importantes para a saúde. Fazem parte da flora intestinal normal dos mamíferos, incluindo os seres humanos. 

E as E. coli enterohemorrágicas (EHEC) como a que tem provocado o surto de infecções alimentares na Alemanha?
São estirpes de E. coli que adquiriram a capacidade de fabricar uma toxina, a verocitotoxina ou shiga. A infecção do ser humano por uma bactéria deste tipo pode provocar gastroenterites agudas, com cólicas abdominais, diarreia com sangue, febre moderada e vómitos, requerendo uma hospitalização em 5 por cento dos casos. Nos doentes hospitalizados, pode evoluir para uma síndrome hemorrágica que se revela mortal em 3 a 5 por cento dos casos, chamada síndrome hemolítica-urémica ou SHU. 

O que é a síndrome hemolítica-urémica (SHU)?
É a fase em que a infecção se espalha pelo organismo, causando estragos nos vasos sanguíneos – com especial afinidade pelos rins, onde os danos podem ser irreversíveis. A queda do número de plaquetas em circulação no sangue causa hemorragias. 

Qual é a origem destas bactérias tóxicas?
A primeira estirpe foi identificada na carne picada nos anos 1980 nos EUA e designada por O157:H7. A bactéria responsável pelo actual surto de SHU na Alemanha é de uma estirpe muito próxima, O104:H4. Pensa-se que estas bactérias surgiram de uma combinação genética de E. colinormais com bactérias patogénicas (talvez shigella) devido à utilização de tecidos animais na alimentação industrial, nomeadamente bovina. Estas E. coli também costumam ser resistentes aos antibióticos, o que poderá ser devido ao tratamento dos animais com antibióticos. 

Qual é o habitat natural destas bactérias patogénicas?
As estirpes patogénicas de E. coli vivem no intestino dos bovinos e suínos, animais a quem não causam doença. 

Quais são as principais vias de transmissão para os seres humanos?
A infecção propaga-se sobretudo através da carne picada de vaca insuficientemente cozinhada, donde o nome de “bactéria dos hambúrgueres” por vezes dado a estas bactérias. No matadouro ou no talho, resíduos animais podem contaminar a carne e esta, ao ser picada, fica misturada com os produtos contaminados. Se não for bem cozinhada, a bactéria permanecerá viva no interior da carne. Algo que não acontece com os bifes, por exemplo, uma vez que a bactéria fica nesse caso à superfície da carne e é eliminada pelo calor da cozedura. Sem os devidos cuidados, as fezes das vacas contaminadas podem também fazer passar a bactéria para o leite, que é uma outra fonte de infecção humana quando consumido sem pasteurização. 

E a contaminação via os legumes?
Não é a mais habitual, mas as hortaliças podem ser contaminadas por água de rega contaminada, por fertilizantes naturais ou por terem estado em contacto com fezes de animais contaminados em qualquer fase da sua produção, transporte, venda ou preparação. 

Os sintomas da infecção são sempre agudos?
Conforme os casos, podem passar despercebidos ou dar origem à panóplia de sintomas já acima referida. Na maior parte dos casos, a situação resolve-se passados uns dias (com ou sem hospitalização). 

A infecção é transmissível de uma pessoa para outra?

Se uma pessoa estiver infectada sem o saber (seja porque ainda não manifestou a doença, o que pode demorar vários dias, seja porque tem uma forma assintomática), ela é susceptível, em caso de insuficiente higiene das suas mãos ao sair da casa de banho, de contaminar os alimentos ao manuseá-los. 

A infecção responde aos antibióticos?
Para além destas bactérias serem resistentes a muitos antibióticos, um tal tratamento até pode fazer piorar a situação, ao matar as bactérias da flora intestinal que poderiam ajudar a controlar a proliferação das bactérias patogénicas. 

Quais são as precauções a ter em relação aos alimentos?
Estas bactérias morrem a temperaturas superiores aos 70.ºC ou inferiores aos –20.ºC. As hortaliças cozidas durante uns dez minutos não apresentam perigo e, em princípio, os ultra-congelados também não. Mesmo assim, é aconselhável cozer muito bem a carne picada. Os legumes e verduras que vão ser consumidos crus devem ficar de molho em água com 4 a 5 gotas por litro de lixívia, antes de serem muito bem passados por água.


O que se sabe actualmente sobre a bactéria responsável pelo surto?
Nos últimos dias, os genes da estirpe da bactéria Escherichia coli responsável pela doença foram descodificados por cientistas alemães e chineses. Os primeiros resultados mostram que a bactéria é inédita e resultou do cruzamento de duas estirpes de E. coli já conhecidas. Não se trata, portanto, de uma mutação espontânea numa estirpe, como se chegou a pensar, mas de uma troca de genes entre duas estirpes afastadas. Uma das estirpes “progenitoras” é a E. coli enterohemorrágica (EHEC) O104:H4 de que já se fala há uns dias. Mas 93 por cento do genoma deste novo híbrido é idêntico ao de uma outra categoria de E. coli, dita entero-agregante (EAEC). Esta segunda “progenitora” já fora detectada na República Centro-Africana e é conhecida por provocar diarreias graves. Ao contrário das EHEC, que infectam animais e humanos, as EAEC só foram detectadas em pessoas. 

Segundo um especialista citado pela revista New Scientist, as EAEC são mais resistentes do que as outras E. coli, o que poderá explicar a virulência do novo microrganismo. 

Para que serve conhecer o genoma da bactéria?
Primeiro, para desenvolver um teste que permita identificar rapidamente os casos de doença, o que já está em curso. Mais geralmente, para estudar em pormenor a virulência da bactéria — e, eventualmente, descobrir os seus pontos fracos e conseguir prevenir ou tratar a infecção.

Já se conhece o “culpado” pelo surto actual?
Não. Sabe-se que a infecção surgiu na Alemanha, uma vez que nos 13 países onde já se registaram casos todos os doentes tinham estado na Alemanha nas semanas anteriores. Mas o alimento em causa ainda não foi identificado e há quem diga que talvez nunca o venha a ser. Os especialistas ainda consideram como fonte mais provável do surto os pepinos, tomates e alfaces — legumes cujo consumo crus as autoridades sanitárias alemãs têm desaconselhado naquele país.

Quais são as potenciais fontes alternativas de infecção que estão a ser consideradas?
As frutas e legumes em geral — e a sua eventual contaminação no campo, pelas águas de rega, esgotos, durante o transporte, o condicionamento, a preparação. Outros alimentos também estão sob suspeita, como a carne e o leite. E segundo o El Mundo, na Alemanha e em Espanha aponta-se o dedo, sem dar pormenores, à água engarrafada.

Por que é que os pepinos espanhóis foram ilibados?
Os pepinos espanhóis não continham a estirpe de E. coli em causa. Mesmo assim, continham bactérias E. coli, um mau sinal em termos de higiene alimentar seja qual for a estirpe presente, patogénica ou não, uma vez que indicia uma contaminação do alimento com fezes animais ou humanas. Isto poderá, aliás, obrigar a rever as normas de higiene da agricultura biológica, onde o estrume dos animais é utilizado como fertilizante.

A bactéria pode ser transmitida entre pessoas?
Pode. A incubação da doença demora vários dias. Por isso, uma pessoa pode ter sido infectada, mas não apresentar ainda sintomas graves e não suspeitar que está doente. E se ela preparar alimentos e não tiver o cuidado de lavar muito bem as mãos antes de os manusear, a bactéria pode infectar outras pessoas. Há quem receie que a particular virulência desta estirpe torne mais fácil a transmissão da doença entre pessoas em contacto chegado, mas, por enquanto, não há indícios de que isso esteja a acontecer.

A infecção ameaça tornar-se global?
Não parece provável. Por um lado, o surto continua circunscrito à região onde surgiu. Por outro, mesmo que a bactéria seja transmissível em certas condições, trata-se de uma intoxicação alimentar e não de uma doença infecciosa como a gripe, por exemplo.

O que fazer para prevenir?
Cozer as hortaliças e lavar muito bem as frutas e legumes que vão ser consumidos crus, colocando-os de molho em água com lixívia antes de os passar por água abundante. Descascar frutas e legumes se possível, lavando-os antes e depois. Cozinhar muito bem a carne picada. Não beber leite cru. Lavar sempre muito bem as mãos ao sair da casa de banho. Não reutilizar sem os lavar os mesmos utensílios para cortar carne crua e outros alimentos.